E o Ritual de Samhain chegou, e para mim em especial, como o
fechamento de um ciclo que carinhosamente chamei de Ano de Provações, ele
começou com o termino de uma etapa de grupo e mudança de visão de trabalho, um
processo que exigiu muita paciência e dedicação e que resultou em muitas
bênçãos e vitórias.
Sempre gostei de trabalhar com grupos, acho que se aprende
muito com os acertos e erros coletivos, mas aprendi que quantidade de pessoas
não é o mesmo que qualidade de pessoas e que por mais que eu gostasse de ter
muitas pessoas por perto, a verdade é que os desgastes e a qualidade do ensino
passava a ficar comprometida.
E revendo todo esse processo e a correria que foi para assegurar
projetos coletivos como o CBT (Conselho de Bruxaria Tradicional) diria que foi
uma persistência que ajudou a muitas pessoas a encontrarem sua orientação
religiosa, ao qual mostramos um caminho além do que hoje existe baseado no pão
e circo, bem como damos a possibilidade de caminharem pela Bruxaria Tradicional
de forma natural e abrangente, logicamente que quando se faz isso se desperta a
inveja, a ambição e concorrência de oportunistas que na figura de salvadores
dos pobres e oprimidos sobem em sua ignorância a agredir pessoas e instituições
pelo simples sentimento de inferioridade e muitas vezes necessidade de ficar em
evidência.
Um dia escutei a frase que a Bruxaria Tradicional não
precisa de defensores, é verdade... Nunca disse o contrário, acredito que o
grande tema nunca foi salvar a BT de picaretas, estes sempre vão existir, bem
como pessoas perdidas e limitadas destinadas a não concretizarem nada a não ser
blogs e encontros para “aborrecentes”; tal como diria um grande amigo: “-Estas
pessoas são vitais para servirem de obstáculos para que grandes pessoas
tivessem obras poeticamente conquistadas! “.
Pensava em tudo isso ao pegar a estrada na sexta-feira e que
no fundo eu desejava um caminho diferente para que todos que um dia participaram
conosco pudessem desfrutar desse momento de alegrias e crescimento, mas tudo tem que ser do jeito que tem que
ser, essa foi a frase que conquistou meu coração neste festival de honra a
ancestralidade e aos deuses do inverno.
Durante todo esse tramite me dediquei ao trabalho, não
estava preparado, ou melhor, não me julgava preparado para entrar em contato
com a ayahuasca, pois o meu caminho foi sempre ajudar aos que compareciam ao
grupo, não achava certo fazer o meu trabalho e esquecer tudo e de todos, acho
que por que também tinha perdido a fé nos homens e cansado de escutar
reclamações, comecei a fazer tudo sozinho, da fogueira, a organização da
cozinha, ritualística e tudo mais, embora os peregrinos, que hoje estão, sempre
foram solícitos, mas diante de tudo isso, posso garantir que um homem pode
tocar tudo sem soltar qualquer lamento pela quantidade de trabalho, os deuses
são sábios e lhe dão a força ativa para que tudo seja sintonizado com o
momento, não mais conto com “irmãos do fogo” ou “donas da cozinha”, aqui não há
mais razão para titularidades que são como esterco para enaltecer egos e
desrespeito, hoje acende a fogueira quem se sente digno de acendê-la com muita
humildade e a permissão não vem de palavras ou títulos, vem de “olhares da
alma”, do mesmo modo quem trabalha com o alimento se manifesta por consciência
e por gosto e tem dado muito certo, as pessoas colhem prosperidade, respeitam o
coletivo e se sentem parte de uma família unida por um objetivo comum,
crescimento e a alegria de compartilhar.
Tomei meu chá de camomila já na noite fria de sexta-feira no
sítio, silêncio e contemplação, e como é bom escutar o silêncio, sem gente
tropeçando, rosnando uma para as outras ou homens rindo como pomba gira em
festa de lebara!
No sábado as pessoas chegavam com sorrisos, saudades e
novamente abraços sinceros e carinhosos, o prazer de rever novamente não apenas
aprendizes, mas pessoas maravilhosas com o espírito de amizade e gratidão,
vinham chegando e colocando suas oferendas, seus alimentos, e suas malas nos
quartos de forma tranquila e madura, aos doentes deixavam por iniciativa própria
as melhores camas e meu coração se encheu novamente de luz perante a
consciência peregrina, despreocupado passei a observar melhor os trabalhos e me
dedicar de forma mais intensa ao aprendizado, pois a gratidão é como a alegria
de um pássaro que canta melodias sábias e todos sabem o momento de sentarem e
apreciarem tais canções.
As palestras foram de encontro à necessidade dos peregrinos,
sobre como funcionam as limpezas espirituais, como funciona um altar
tradicionalistas, diferenciações de crença e religião, falamos sobre a
ancestralidade, sexualidade, problemas pessoais e muitos outros assuntos que no
círculo sentado perto da lareira ouvimos atento aos diversos depoimentos e
relatos de guerreiros que nos deixaram emocionados e felizes por estarmos com pessoas
vencedoras e que conseguiram lutar por suas vidas diante de momentos de saúde
muito sérios, com certeza um tapa de realidade que transformaram nossos
pequenos problemas cotidianos em poeira!
Lembro-me de dizer a uma delas que numa guerra eu gostaria
de tê-la ao meu lado, guerreiros que tinham uma vivência riquíssima e que me
senti agraciado perante suas presenças.
Ao entardecer havia dois discípulos a desempenharem a sua
devoção da primeira roda, chamei aos dois que estavam de jejum há dois dias para......
(+ sobre o artigo).
Abraços Fraternos,
Ricardo DRaco