Nós da CLÁN sempre nos direcionamos para a busca da
sabedoria e do êxtase da vida, contudo nesse ritual ficou firmado dois tipos de
trabalhos importantes e que antes nunca houve a necessidade e intenção de
realizá-los, sendo assim abrimos a frente de trabalhos de cura, bem como de
trabalhos de banimento, não que eles já não existissem, mas consideramos um
tempo oficial em nossas atividades neste plano.
Mais um giro na roda e lá a girar em frente à fogueira, os
pés subiam sobre o ar e levitavam e os elementais da fogueira faziam desenhos
de animais a dançar em coro sob o céu estrelado, ao som do ranger dos galhos e
do bater de folhas, os iniciados em pleno êxtase de olhos fechados sentiam
leves e cambaleavam pelo girar das eras em minutos e assim retornamos a nossa
casa e colocamos lenha na lareira, e lá estava a mesa dos ancestrais, fizemos
nossas preces com respeito, um a um e cada um com seus pensamentos e lá ficamos
em um trabalho fortíssimo em pleno êxtase.
Onde tu esta madre Ayahuasca?
Tomei minha dose de uma ayahuasca doce e desmerecida por um
bode tolo, ah como tu minha senhora é doce e esquenta ao tocar meus lábios
perdidos no além deste pequeno e ínfimo mundo, no começo não a senti, não me
importei, pois como sempre meus olhares estavam sobre o funcionamento do
ritual, mas em um estralar de dedos tive a surpresa da doce voz que ha tempos
tinha me dito que eu sabia demais e por isso não mais teria nada a me falar, ah
saudades me vieram daquele encontro, me sentei sobre os pés da bondosa senhora
e lá acariciado por suas folhas fiquei a sentir sua familiar energia que me
dizia grandes alegrias, dessa vez eu tinha dúvidas as quais ela respondeu
carinhosamente me deixando feliz e em paz, ah sim tinha limpeza, ah como
escolhi mal minhas companhias, ah como triste eu estava, mas passou, passou
pois joguei para fora como um gato o faz com as bolas de pêlo, as joga para
fora e isto me deu um sublime alívio.
Por que você se preocupa tanto? Assim ela me dizia: - Tudo
tem de ser como realmente é, e cada um tem que ser o que é, palavras doces e de
grande ensinamento, tirei um peso das costas e minha alma ficou tão mais leve,
deixe os ignorantes com sua ignorância e entenda que o mundo dos humanos é
desconectado, é um mundo surdo cheio de “eus”, você duvida?
Eu sorri e disse que sim, que de forma descontraída dizia
que não era bem assim e ela me disse então VEJA! Pedi para um rapaz do grupo se
aproximar da lareira, ele olhou para mim meio como senão me enxergasse e foi
para o fundo da sala e se acomodou ao seu gosto, é claro... que uma pessoa
esperançosa na humanidade ainda coloquei mais uma prova e uma senhora do meu
grupo estava lá inconformada com as brasas que pularam da lareira e estavam no
chão, eu dizia a ela... – Não precisa pegar, deixa... a senhora vai se
machucar. Ela olhou para mim e disse: Não vou não, eu tenho certeza que não vou
me queimar.
E a querida senhora das folhas olhou para mim e eu a olhei e
rimos... é verdade, tudo o que faço ou peço não tem importância, cada qual esta
em seu mundo, diante de suas necessidades, de suas visões, eu só estou aqui de
passagem e agradeço por isso.
Depois de um tempo uma peregrina sentou-se ao meu lado,
sofrendo diante do poder da batida dos tambores da alma, ah como estava frio,
eu lembro! Geava na alma, e ela tremia a me lado, a tranquilizei, mas o
racional, ah sempre o racional a nos pregar tantas peças e a nos promover
tantas dúvidas, seria tão mais fácil fluir nesse amor em ondas tranquilas desta
nossa viagem chamada vida, eu sabia todos os passos daquela dança, dos
questionamentos passados na mente dela, das inquietações, das debilidades e limitações
do corpo, um passo igual a um quilometro, eu entendo e tentei ajudar, quando a
mão da rainha se colocou ao meu ombro e disse fique, cada um com seu
crescimento, e lá fiquei tal como um advogado a tentar ajudar ao próximo, mas
aquele era o meu momento e como é bom ser cuidado de vez em quando!
Sentei no sofazinho e lá fiquei e.... amanhã te conto mais!
(Parte Final).