Ao entardecer havia dois discípulos a desempenharem a sua
devoção da primeira roda, chamei aos dois que estavam de jejum há dois dias
para que fizessem o seu retiro em busca de meditação e sintetizar suas buscas e
descansarem seus sentidos externos e despertarem os internos, e lá ficaram até
a hora mágica do entardecer.
Enquanto os peregrinos em isolamento faziam o seu processo,
sentávamos em roda diante da boa e velha lareira para adentrarmos um pouco mais
no conhecimento ancestral, na mítica e no questionamento das diferentes visões
sobre povos antigos, procedimentos nos dias de hoje, o motivo de tanta
desinformação e logicamente dos grandes projetos que todos da CLAN poderão
vivenciar, ficamos agraciados pela alegria deste compartilhamento e no momento
descontração, nossa irmã que acabara de chegar, uma senhora canceriana muito
divertida contava sobre suas particularidades com relação às questões de
relacionamento o que arrancaram muitos risos dos que ali estavam! E confesso
que me deixaram meio sem graça, embora eu prefira mil vezes pessoas assim,
soltas, desbocadas e sarristas do que àqueles velhos conhecidos hipócritas que
com suas morais e limitações se mostram como monges, os defensores de uma ética
que pouco ou nada seguem, a não ser na frente dos outros, mas devo dizer que
pessoas de espírito livre e abrangentes sempre foram a minha praia, malucos
beleza como diria Raul Seixas, e nesses papos livres mostramos as nossas vivências
e nos divertimos até a chegada da noite.
Por um instante me desliguei do local e me vi caminhando
entre os espíritos da casa, espíritos sofredores
batiam aos nossos portões uns
em busca do alimento da alma, outros raivosos querendo atrapalhar os trabalhos,
para estes obscuros mostramos no fio de nossa espada a luz que reflete a do
Sol, e que cada um se esvaia nas trevas de onde vieram e retornem aos seus de
afinidade, em nossa casa não há lugar para desencarnados ou encarnados de pouca
energia mental, não há lugar para intrigas, para limitados, aqui é a casa do
vento do norte, do movimento e tal como o vento é... Banimos de forma muito
tranquila os espíritos de porco e continuamos o nosso trabalho.
O véu da noite se estabelece em nosso céu e lá as canções
foram repercutidas pela floresta, seres da floresta, elementais, guardiões,
ancestrais, mestres e aprendizes se apresentaram e o chão se tornou um céu
cheio de estrela e a fogueira espantava as trevas, queimando e notificando a
presença dos dragões na Terra.
Todos giravam perante a clareira e ali com cantos evocávamos
os espíritos de nossos ancestrais, agradecíamos aos deuses pelas boas
colheitas, jogávamos fora em nossa fogueira presentes e instrumentos que não
mais nos serviam, oferecíamos aos seres do fogo para que transformassem nas
cinzas mágicas.
E lá os peregrinos da primeira roda fizeram suas devoções, e
o cone de energia se expandia, em um dado momento foi chamado à fogueira um dos
espíritos obsessores, e ao entrar no círculo o ser foi jogado as chamas fazendo
com que os troncos da pira caíssem ao chão na direção de quem ele estava sendo
importunando, muitos fraternos ficaram perplexos e lá cantamos até jogarmos o
espírito traiçoeiro ao buraco das almas.
Nos da CLÁN sempre nos direcionamos para a busca da
sabedoria e do êxtase da vida, contudo nesse ritual ficou firmado dois tipos de
trabalhos importantes e que antes nunca houve a necessidade e intenção de
realizá-los, sendo assim abrimos a frente de trabalhos de cura, bem como de
trabalhos de banimento, não que eles já não existissem, mas consideramos um
tempo oficial em nossas atividades neste plano.
Mais um giro na roda e..... (continua)