terça-feira, 9 de novembro de 2010

BRUXARIA TRADICIONAL E INFLUÊNCIAS

BRUXARIA TRADICIONAL E INFLUÊNCIAS

Nos dias atuais é normal vermos uma confusão de valores e informações, hoje temos a internet, a TV a cabo, revistas, etc... ou seja, existe um acumulo de dados dispersos e pouca informação, este problema afeta também sendas que são mais discretas no assédio da mídia, a questão é como qualificar ou entender em qual caminho se esta trilhando, muitos peregrinos procuram o Conselho de Bruxaria Tradicional e o círculo de magistas que faço parte, com muitas dúvidas dado ao volume de textos inúteis e superficiais que encontram, misturando costumes, práticas numa panela e dizendo que aquilo é Bruxaria Tradicional, lembro de um rapaz do sul do Brasil, que já irritado com tanta mesclagem sem sentido e que estava em busca de um local sério e de pessoas realmente praticantes, pois não agüentava mais a mistura de valores e sistemas mágicos baseados na Wicca.

Pois bem, Bruxaria Tradicional tem seus valores, fundamentos tal como qualquer senda, e ao seguir por BT tem que vivenciar seus valores, ela não é um agregado globalizado de culturas, ela não tem como base o sistema mágico da Wicca, e não usamos símbolos religiosos de outras religiões, ou qualquer outra simbologia que identifique homogeneamente de culto na BT, portanto iremos encontrar na Europa símbolos que sejam de acordo com os antigos povos que ali habitaram, tal como os celtas, visigodos, romanos, entre outros e assim com isso podemos entender que cultuamos povos originários da Europa, mesmo que entendemos e respeitamos as influências de outros povos de fora do continente, porém sabemos definir que cada coisa tem o seu lugar.

Lanço uma questão, nas últimas décadas muitos angolanos tem firmado residência em Lisboa, e trazem suas influências africanas, devemos então entender que temos ai um exemplo de Bruxaria Tradicional Angolana? É claro que não!

Temos o péssimo costume de matar o mensageiro pela notícia, qualquer pessoa que realmente conhece BT sabe desses valores que são muito básicos e estão abertos para quem deseja se aprofundar nesse caminho, na Bruxaria Tradicional tem características filosóficas próprias, e não foge a regra de aceitação ou não de culto similares.

Vamos a outro exemplo para ficar claro, dentro da maçonaria tem um conjunto de valores, isto torna tal rito reconhecido ou não, o mesmo acontece com a BT, e isto não tem nada haver com união pagã, tem haver com afinidade de caminho.

A Bruxaria Tradicional não é um dispositivo para ser remodelada pelo seu agregado pessoal de conhecimento, a isto chamamos de distorção religiosa, o sujeito que joga búzios, lê runas, lê borra de café, faz reiki, etc... E caracteriza como sendo bruxaria, não sabe o que esta dizendo, isto faz parte do agregado pessoal, das crenças individuais, é como ser católico e ir pular ondas para Iemanjá no Mar, nunca poderemos dizer que isto é da crença católica. Outro fato é confundir Bruxaria Familiar com Bruxaria Tradicional, na segunda existem matérias de estudo, um exemplo é baseado academicamente nos valores de reconstrucionismo dos antigos povos EUROPEUS, cabível aos celtas como qualquer outro povo, portanto se falarmos de celtas, devemos buscar TODA a informação nas nações celtas, isto é estudo e não invalida crença, o grande problema esta em confundir estudo com crença, por isso existe a necessidade de conceitos, de base filosófica, de entendimento histórico, político, um exemplo é pensar que os celtas eram Irlandeses, Não! Os celtas eram continentais de grande expressão na Gália atual região da França e que migraram para a Península Ibérica entre outros locais, tal como a etimologia do nome de Lug, Lugo (fonética ibérica), Lugus (latim) e Lugh (gaélico).
Dentro de nosso culto como Bruxaria Tradicional honramos o panteão Pan-Céltico, e também os deuses celtas mais regionalizados em nossa região, muito de nosso conhecimento vem de material maciço e que não está disponibilizado por enquanto, pois acreditamos na necessidade de um acompanhamento baseado em estudos sérios e aprofundado.
A nossa visão é a preservação, a pesquisa, a busca, nós não estamos focados na era medieval cristã, não buscamos as influências satanistas dadas pela igreja católica, nem de povos do Islã, ou de chegada tardia de outros povos, e isso não tem haver com purismo, tem haver com discernimento de foco, honramos a origem da região e todo cenário além da espiritualidade.

CONCEITO DE SANGUE DE BRUXO

Quando falamos em sangue, falamos de origem do ensinamento, seria muito fácil falar do sangue por si só, daí montaríamos um centro de transfusão de sangue e todos teriam sangue de bruxo! O sangue tem haver com a origem do agregado ancestral, é inadmissível para um Bruxo Tradicional e mais ainda para um Bruxo Familiar não saber sua árvore genealógica e nem se preocupar com isso, ou faltar conhecimento do conceito família, honramos aqueles que vieram atrás de nós na sua individualidade e não como uma energia genérica, tal como muitos o fazem ao cultuar deuses, onde todos são um, esta é uma idéia que não cabe a Bruxos Tradicionais.
Falamos de valores familiares, não é simplesmente por que a prima é dançarina, um parente lá que gosta de música espanhola ou o tiozinho que coleciona fotos de familiares; Falamos do agregado familiar que vai muito além! Temos muitos amigos e aprendizes homossexuais, mas eles lutam por sua família e não se isolam por que família NÃO é amigos que moram na sua casa para dividir o aluguel, família não é coleguismo, isto também demonstra o quanto se esta afinado com o caminho de tradicionalidade na Bruxaria.
Nosso grande dificultador é que justamente estamos em pleno século XXI com a cultura fast-food, onde “estudos seriíssimos” estão nos gibis, na internet, na Globo e na TV a Cabo, e as pessoas não se prontificam a buscar com profundidade, preferem o que lhes vem fácil, ou seja, receberem prontos, caindo na mão de charlatões que fazem palestras em parques públicos, onde falam de práticas esquizotéricas, se fantasiando de beduíno de luto com lenço cigano, pentagrama e toda montagem cinematográfica pomposa! Mas o porquê disso? Fácil! Essas pessoas não têm profissão e vivem extorquindo àqueles adolescentes que ainda não tem base para julgar uma brincadeira de um folião de um caminho sólido e sério.

INFLUÊNCIAS EXTERNAS

Existe muita confusão dentro desse conceito, não vou voltar ao tópico Bruxaria Tradicional Angolana, mas vamos falar sobre ervas e simbologias.
É fato que hoje temos acesso a um mundo de ervas de diversas regiões, usamos cravo, sândalo, sálvia branca, etc... Um bruxo trabalha com a magia de essências, e nisso encontramos nas práticas mágicas, é fato também que não podemos dizer que o Pau Brasil é Indiano, ou que o Sândalo é brasileiro, embora seguindo a visão de algumas pessoas mal informadas, dá a idéia de que tudo é a dita “influência”, isto é falta de conhecimento, de visão, de entendimento e conseqüentemente de conceito.

Os Britânicos gostam do esoterismo, de conhecerem outras culturas, mas vai lá falar que inglês é igual a irlandês, vai lá dizer que Isis é irlandesa! Por vezes ha falta de bom senso, e as pessoas misturam tudo e acreditam que o “samba do crioulo doido” é a solução, nos acreditamos que é o problema, pois temos visto um desrespeito muito grande com o que é nativo dando a impressão de arcaico, e utilizando o “modernismo” como uma visão futurista, mesmo que essas pessoas no seu linguajar utilizem o português arcaico ou o “portanhol”, os famosos bruxos de plástico!

Vamos a outro exemplo:
Voodoo é Inglês? Oras o fato do vale do Mississipi (EUA) tenha sido colonizado por ingleses não vejo como dizer que o sujeito é English Voodoo! É isso que alguns ecléticos iniciados na BT do Tiririca se baseiam, e querem ser respeitados e reconhecidos.

Nós entendemos que o fato de se colocar uma imagem de Buda no altar, não o faz uma prática de bruxaria, esta imagem continuará sendo do budismo, algumas pessoas confundem prática mágica com caminho espiritual, isto mostra que se suas necessidades de crença pessoal estão acima de qualquer caminho, então cabe que reveja o seu entendimento sobre a espiritualidade, não distorça um caminho para que ele caiba nas suas crenças.

Em nosso grupo digo que os primeiros anos são para avaliar o que cada um sente a respeito de sua peregrinação, acredita em ressurreição? Em reencarnação? Que após a morte vai para um lugar específico? É politeísta?

Não é da BT acreditar que somos Deus, ou que o Deus mora dentro de si, ou se despedir de alguém falando do Pai, da Mãe, só falta dizer do Espírito Santo e Amém.

Um bruxo não é herético, ele não é imoral, ele não é estúpido, porque ele sabe aonde ele pisa, ele tem solo em baixo de seus pés, ele tem uma via clara, ele não depende da busca de outros sistemas e outras culturas das várias partes do mundo para formar o seu caminho, se assim o faz é para engrandecer sua cultura pessoal, ele não precisa “inovar” seu caminho ele precisa filosoficamente entender com a maior perfeição as veredas do mesmo, inovação é base para qualquer cidadão independente de crença.

Não nos baseamos em trechos da bíblia para separar “o joio do trigo” nos simplesmente seguimos nosso caminho com maestria, e ajudamos àqueles que desejam além do desejo fútil da curiosidade, dos rótulos, dos palcos e dinheiro.
Nosso desejo é que todos possam conhecer nosso caminho de modo sincero, profundo e sem dúvida, enriquecedor, sem precisarem ser desfalcados por charlatões ecléticos esquizotéricos.



Resumindo:

Não queremos dizer que você não possa usar o termo Bruxo Tradicional tal como poderia usar de Dançarino do Balé Bolshoi, a questão é a intensidade necessária que cada um busca, ficar na superficialidade brincando de bruxaria ou realmente ser um praticante coeso.

Quando se estuda, se tem conceito, a vida espiritual fica mais fácil, mais direta, existe um bom senso na visão de mundo, podem reparar que daqui ha 10 anos tudo vai mudar diante da vida de alguns sacerdotes ecléticos, eles já não serão de tal região, ou cultuarão algo que esta mais em evidência, os fundamentos daquele caminho que ele defende já serão até antagônicos.

Esqueçam Orkut, esqueçam material fácil de leitura, vão a fundo em algumas matérias que estudamos, seja o manuseio de ervas, o folclore, a reconstrução, a história, ao entendimento da mitologia, a culinária, mas foquem numa região que tenha haver com sua essência, não fique pulando da Itália para Portugal, vá num ponto exato e aprenda com aquela cultura.