A religiosidade da Bruxaria Tradicional tem se popularizado pelo mundo, vários artigos são escritos, muitas visões reveladas, contudo a ampliação que a princípio é interessante, pois demonstra mais um caminho de culto reflete também uma maior necessidade de colocar parâmetros para definirmos com respaldo que a nossa amplitude de crença não atrapalhe na definição de um caminho.
A melhor maneira de entender um caminho com propriedade é vivenciá-lo, quando se coloca em prática grande parte da teoria é melhor captada, melhor digerida e na sua simplicidade poderíamos até filosofar sobre as paisagens que este belo e ancestral caminho nos promove.
A primeira definição é que se trata de um caminho que nasceu de uma religiosidade natural, que chamamos de crenças da floresta, com sua diversidade, com o entendimento da flora e da fauna, da essência de cada ser vivo, de cada espírito, de um princípio animista, onde tudo tem alma, partindo para a separação das almas maiores das menores, da personalização das forças telúricas para o conceito de deuses (politeísmo).
A adoração à natureza, o seu cultuar na floresta, a sabedoria das essências, o passar de geração a geração, a visão de mundo, os costumes, as crenças tornaram esse caminho antigo quase que uma inspiração para os dias urbanos do cotidiano.
Esta visão de mundo passada por algumas famílias podem ser definidas como crenças nativas ou tradições nativas, a Bruxaria como um fenômeno teológico europeu, sobreviveu não pelo medo ou perseguições e sim pela crença tão profunda nessa religiosidade, que foi se moldando ao passar das eras, contudo hoje entendemos que não se pode esquecer-se das origens, da essência, da ancestralidade e, portanto muitos adeptos que hoje se encontram em grupos maiores, em ordens criadas para a preservação desta fé, fazem um belíssimo trabalho de volta para casa, realinhando e realizando trabalhos de pesquisa acadêmica.
Quando dizem que nossas crenças estão vinculadas ou nasceram na idade média, no ápice da Igreja Católica e seus critérios foram constituídos pela visão cristã, sinto uma grande tristeza, pois a nossa fé nunca foi cultuar o Diabo, nunca tivemos em nossa origem qualquer manifestação anti-crística, ou foco em prejudicar pessoas ou a sociedade. Não tivemos devoção aos rótulos cristãos, se assim pareceu, foram apenas formas sincretizadas e que há décadas com a abertura religiosa não faz nenhum sentido, se para alguns o faz é pelo motivo que já se perdeu da origem de nossos cultos e hoje é apenas uma manifestação marginal da própria Igreja Católica, nada mais que isso.
Algumas pessoas ficam chocadas com as questões conservadoras de nossa religião, tentam ofender àqueles que demonstram o caminho, contudo o caminho existe antes mesmo de nós o citá-lo, ele não é feitiçaria, é uma das diversas expressões religiosas que utilizam da magia. Para ser um bruxo tradicional é preciso mais do que iniciações, é preciso crer na sua religiosidade, entender a necessidade de preservação, saber definir o que é BT de outros caminhos, caso contrário será apenas um feiticeiro, sem uma crença específica, sem os princípios passados e que nos fazem reconhecíveis para com outros fraternos, sem um rumo.
A alquimia do caminho te transforma, mas para isso será necessário romper com egos, ter discernimento e saber qual é a sua casa, ser tudo é ser nada, se conheça para ser um peregrino em essência na jornada da Bruxaria Tradicional deixando no passado os outros títulos de outras caminhadas/ religiões.
Autor: Ricardo DRaco
Ricardo DRaco é conselheiro do CBT e fundador da CLÁN - Círculo de Bruxaria Tradicional Ibero-Celta, um dos primeiros grupos fundados no Brasil.