sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Ideologia Tripartida de Georges Dumézil




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Filólogo e historiador das religiões, Georges Dumézll (1898-1980) é uma das maiores figuras das ciências humanas francesas. Dotado de uma cultura enciclopédica e por causa de suas pesquisas, a aprender quarenta línguas, Georges Dumézil dedicou toda sua vida a trazer à luz o fundo cultural comum aos povos indo-europeus. A sua obra de síntese Mythe et Epopée (1)- vasta compilação de lendas, contos e mitos acompanhados de análises - leva-nos ao cerne das teses desse arqueólogo da civilização indo-europeia.

Monumental e solitária, nas palavras do etnólogo francês Claude Lévi-Strauss, a obra de Georges Dumézil marcou profundamente as pesquisas sobre a civilização indo-europeia que os filólogos descobriram no século passado. 

A partir dessa ideia de que existe uma grande comunidade indo-europeia, Georges Dumézil vai descobrir, através de um estudo comparado das religiões, dos mitos, dos relatos e dos tipos de organização social, uma forma de pensamento e de representação do mundo comum a todos os povos indo-europeus.

A partir de textos de línguas escandinavas, celtas, gregas, romanas, caucasianas, iranianas e indianas, esse arqueólogo observa que todos esses povos representam as funções que permitem a vida em sociedade em três categorias: as funções soberanas e religiosas (o espíritual), as funções guerreiras (a força física) e económicas (a fecundidade). Ele demonstra assim que essa "ideologia tripartida" estrutura a organização sócio-religiosa mas também o imaginário dos indo-europeus.


No Mundo Escandinavo essas três funções são representadas pelas figuras dos deuses Odhinn (o deus soberano), de Thorr (o guerreiro) e de Freyr (o povo), e no mundo romano aos deuses Júpiter, Marte e Quirino. Essa tripartição funcional encontra-se também na Idade Média ocidental, com a divisão da sociedade em três ordens: religiosa, cavaleiresca e camponesa.


De maneira mais geral, o autor possibilita-nos o acesso a uma verdadeira literatura que se manifesta através dos "romances comuns" que narram, com infinitas variações, as mesmas histórias de Homero, Virgílio entre outros. A história bastante conhecida de Ulisses, disfarçado de mendigo, que vem confundir os usurpadores de seu trono e resgatar Penélope através de uma prova de tiro com o arco, prova essa de uma força sobre-humana.

Um mito escandinavo narra também a mesma história: a de Ubbo, o frísio, que demonstra a sua força extraordinária através do emprego de uma arco que põe em fuga seus inimigos. Podemos ler ainda, com prazer, a história escandinava de Loki, deus astucioso e maligno, assassino de Baldr que, no entanto, tem um corpo vulnerável (como Aquiles e Siegfrid), história que o autor encontra nos mitos dos ossetes (nome de um povo caucasiano descendente dos terríveis Citas), em que Syrdon, o mau, toca por astúcia o corpo invulnerável de Soslan, o bom, vitima da inveja do deus.


A obra de Georges Dumézil é, em primeiro lugar, a compilação de relatos fantásticos colocados em paralelo e contando uma história que não é a cada vez exatamente a mesma, nem totalmente outra. Ela é também a salvação de um património cultural ameaçado que o autor, por algum tempo, trouxe à vida. 


Cordialmente,

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