Artigo sobre enteógenos na sociedade urbana e contemporânea.
Enteógeno significa literalmente "manifestação interior do divino", deriva da palavra "entusiasmo" de raiz grega, que refere à comunhão religiosa sob efeito de substâncias visionárias ou à espasmos de profecia. Entretanto este termo foi proposto como uma forma apropriada de nomear estas substâncias, sem tachar pejorativamente costumes de outras culturas.
As substâncias enteógenas eram e são comum nos ritos de base campesina, pela ligação entre o homem e a natureza, essa ligação se torna ainda mais comum quando entendida pelos atributos ideológicos/ religiosos que chamaremos de fundamentos do Paganismo, que em sua forma tradicionalista (Paganismo Tradicionalista) implica no estudo e práticas ligadas a Floresta e com isso todo o agregado preservado de conhecimento ancestral no uso de ervas e suas diversas funções que se estendem da medicina até a utilização de cultos religiosos. No Brasil existem milhares de ervas que ainda não foram catalogadas e através de estudos científicos chegam às indústrias farmacêuticas; muitos remédios tendo como base o conhecimento nativo dos chamados povos da floresta.
Contudo a exploração deste conhecimento não gera indignação na sociedade, pois tanto as indústrias como a população ganham com esta questão, seja pela motivação financeira, seja nas alternativas de curas, contudo as questões religiosas ainda se tornam um taboo para a sociedade urbana, visto que não lidam bem com a sua espiritualidade, muito embora a consagram na forma sintética através das farmácias também conhecidas como drogarias.
O desconhecimento da população em definir remédio de droga gera um grande desconforto, pois se uma drogaria (farmácia) vende remédios e não drogas como avaliar o contexto sagrado das plantas enteógenas e seus benefícios religiosos?
Esta questão chama a atenção pela falta de sensibilidade e coesão em catalogar qualquer psicotrópico como um veneno social, misturando práticas nativas e ancestrais com a indústria da criminalidade e o mau uso das ervas, entretanto devemos separar em conceitos diferentes o que é um enteógeno de um veneno químico, tal como devemos separar uma prática religiosa fundamentada de uma prática de entretenimento inconsequente.
Na atualidade temos alguns movimentos religiosos que estão em pauta sobre a legalização, no Brasil temos a ayahuasca regida pelos movimentos como Santo Daime, UDV, Cefluris e sociedades indígenas, temos a questão da Cannabis Sativa advinda do movimento Rastafári (Jamaica), a Igreja do Peyote (México e USA), o movimento nacionalista da folha da Coca (Peru, Bolívia, Colômbia) e movimentos menores como jurema, iboga, salvia divinorium, entre outros.
O que entendemos nessa questão é que as sociedades nativas tradicionalistas possuem uma grande ligação com a herbologia ao mesmo tempo em que em sua medicina trabalham as questões espirituais, sendo que não é o fato de serem psicotrópicos simplesmente e sim um contato com o divino espiritual, isto difere largamente das questões de entretenimento, o famoso "ficar chapado", que podemos convencionar como um desequilíbrio humano diante do afastamento da natureza e consequentemente da sua religiosidade. Além destas questões filosóficas / religiosas encontramos também o comercio do sagrado, que acontece pela falta de informação e agravada pela desinformação gerada por interesses menos nobres.
Fomos questionados para traçar a diferença entre drogados consumidores de crack e "drogados" consumidores de enteógenos. A diferença é muito clara e vamos colocar alguns tópicos que diferenciam esta dúvida.
1 - Origem do culto: Todos os cultos tem uma base religiosa nativa.
2 - Químico: Não foca na retirada do princípio ativo químico e sua potencialização na forma industrial.
3 - Quanto à utilização: Feita unicamente em culto religioso.
4 - Financeira: Não visam lucros, embora lícito pela divisão de custos e trabalhos envolvidos.
5 - Objetivo: Ligação obrigatória com o divino, como obra da cura da alma e dos mistérios do espírito.
6 - Comportamento: Os enteógenos em sua maioria são de consagração coletiva.
7 - Reação: Não causa dependência química.
Com esses conceitos já se pode ter uma visão mais clara sobre o assunto
Em outro questionamento estaria à questão de que nossa sociedade urbana estaria isolada de movimentos nativos e por isso o uso de enteógenos seria declarado como "droga social".
Entendemos que nossa sociedade sofre com a perda da ligação para com a ideologia do natural, causando um desequilíbrio emocional, uma patologia social, contudo devemos separar as moléstias de nossa "urbanidade" dos cultos de sociedades nativas, e para aqueles que sentirem uma inclinação para estas questões religiosas que busquem o contato real e necessário para a sua cura interior, sabendo separar "terapeutas" místicos do comércio de pessoas pautadas na preservação de culturas nativas e que tratam com respeito todo o legado mágico religioso, procurando por pessoas e instituições focadas no estudo cientifico tal como focadas no respeito ao trabalho espiritual. É coeso dizer que muitas pessoas não estão familiarizadas com esta questão, muitos não são índigenas, outros estão longe das questões tradicionalistas, contudo isso não é desculpa para a falta de discernimento, da falta de estudos e da necessária busca pela prática espiritual sincera.
Também estamos convictos que a prática com enteógenos não é para todos e não deveria ser tão divulgada de forma superficial pela mídia e que a maioria dos opositores, quando, e se tiveram esta experiência, estavam totalmente despreparados para esta vivência e assim acabaram por ser vítimas de traumas que motivaram as revoltas.
O mundo dos enteógenos é um mundo muito pleno de conhecimento, entretanto além de um grande respeito é necessário estar preparado para a quebra de paradigmas, da intolerância, preconceito e medo.
O mundo dos enteógenos é um mundo muito pleno de conhecimento, entretanto além de um grande respeito é necessário estar preparado para a quebra de paradigmas, da intolerância, preconceito e medo.
Cordialmente,
CONSELHO DE BRUXARIA TRADICIONAL