quarta-feira, 28 de novembro de 2012

BELTANE – Os Senhores da Terra part.2


(parte1)... Aproveitei o entardecer para descansar e observando do quarto via o por do sol cair sobre as montanhas, uma sensação de harmonia e tranquilidade unida a uma cama aconchegante. Tive a oportunidade de escutar a mudança de músicos da natureza, o que era antes o som dos pássaros deu vazão ao coachar dos sapos e o canto dos grilos e assim a paisagem foi mudando e as dançarinas da noite brilhavam no escuro em tons esverdeados, no começo poucos vagalumes, mas eles foram se achegando e ficavam nas margens do lago em uma frenética dança entre piscar e apagar na noite.

Voltei ao grupo que estava reunido na varanda, digo que fiquei muito contente ao vê-los, todos atentos e famintos pelo conhecimento e pelas experiências que ansiavam durante todo o pré-ritual, e lá expliquei sobre os procedimentos das ervas de poder, a cultura, o feitio, a essência, sobre a espiritualidade e até as questões folclóricas e mitológicas dos deuses celtas que ali iríamos cultuar.

Passada a conversa começamos a agilizar o ritual, todos colocaram suas lindas roupas bruxescas, embaladas pela luz, outros pelo fogo, roupas esvoaçantes que no andar elegante se tornavam vibrações, brisas e entonações junto ao portal de fogo, ali ervas sagradas eram jogadas, e as pessoas se benziam, passavam de olhos fechados, abriam os braços e logo à frente a grande fogueira da consagração.

E lá houve a devoção de uma peregrina, um iniciar perante os deuses, seu sorriso iluminava o ambiente, e girava em volta das labaredas da fogueira, ajoelhada em respeito devotava seu amor a grande jornada da Bruxaria Tradicional; o solo confortável logo pediu generosamente a sua presença, com os braços afastados sorria como criança perante toda a beleza que se abrira perante seus olhos.

Ninfas e sátiros apareceram, dançavam com as pessoas, vibravam e motivavam para a dança, giravam ao som das músicas, as batidas da terra, ao vento que soprava em clima de êxtase, pessoas sorriam, algumas admiradas, outras frenéticas, giravam em volta da fogueira enquanto o fogo jogava estrelas para o céu, salamandras brindavam e dançavam com as pessoas e até mesmo as estrelas do céu se fizeram presentes, gira-gira bruxas e bruxos, peregrinos de uma jornada, aos deuses foram abençoados a noite estava amada, e de tão amada que tudo tinha vida, tinha harmonia e alegria, algumas pessoas com o tempo foram buscando seus elementos, alguns ficavam descalços na terra, outros tocavam as águas, outros sentavam em frente ao fogo e alguns dançavam e dançavam tal como que suas preces fossem faladas com seus corpos e tudo era belo e simples, sem egos, sem dúvidas quanto à espiritualidade plena da floresta.

E a noite embalada ao som girava sobre um mundo, ou melhor, sobre os mundos que ali se abriam, com a sutileza dos elementais ali presentes, a grande rainha se apresentou e orientou aqueles que tomaram do seu vinho das almas, o gosto penetrava sobre os sentidos, se alongava sobre nossa pele e tudo era parte ou o todo de nós, deixando um mundo de visões incomparáveis, cheias de sabedoria altamente transmutada em nosso caldeirão interior, ah saudades de ti que a tanto havia me esquecido! Saudades e que belo reencontro, assim alguém dizia, “hoje sou eu mesmo!”.

E na noite ao qual não queríamos deixar, sobre o tempo da vela no quintal eu.... (continua)