quarta-feira, 8 de junho de 2011

BRUXARIA TRADICIONAL - A Deusa Cailleach

Cailleach fala:  
Meus ossos são frios, meu sangue é ralo.
Eu busco o que é meu. O busco o que ainda não foi semeado. Eu busco os animais para cavernas quentes e mando meus pássaros para o sul. Eu ponho meus ursos para dormir e mudo o pelo de meus gatos e cães para algo mais quente. Meus lobos me guiam, seu uivo anuncia minha chegada. Os cães, lobos e raposas cantam a canção da noite, a serenata da Anciã, a minha canção.
Eu disse sim à vida e agora digo sim à Morte. E serei a primeira a ir para o outro lado.
Eu trago o frio e a morte, sim, pois este é meu legado. Eu trouxe a colheita e se você não colheu suas maçãs eu as cobrirei de gelo. Após o Samhain, tudo o que fica nos campos me pertence.

Cailleach é a própria terra. Ela é as rochas cobertas de musgo e o pico das montanhas. Ela é a terra coberta de gelo e neve. Ela é a mais antiga ancestral, velada pela passagem do tempo. Ela é a Deusa da Morte, que deixa morrer tudo o que não é mais necessário. Mas é também quem encontra as sementes da próxima estação. Ela é a guardiã da semente, a protetora da força vital essencial ao ressurgimento da vida após o inverno. Ela guarda a própria essência do poder da vida. Ela é o poder essencial da Terra. Nos mitos Celtas representa a Soberania sobre a terra e um rei só podia reinar após realizar o casamento sagrado com Ela, que representa o Espírito da terra.

Cailleach é uma das maiores e mais antigas Deusas da humanidade, uma Deusa Anciã, principalmente na Galiza onde algumas teses apontam a raíz no etnónimo Callaici, nome de uma tribo céltica que vivia na região onde mais tarde surgiu a povoação celto-romana de Cale - Cale está na base do nome e fundação de Portugal, enquanto os Gallaici deram o nome a toda a região do Douro para cima, Galiza incluída.

Cailleach rege o céu, a terra, o Sol e a Lua, o tempo e as estações. Ela criava as montanhas com as pedras que carregava em seu avental, mas também trazia aos homens as doenças, a velhice e a morte. Ela é também um espírito protetor dos rios e lagos, garantindo que eles não secariam. Ela controla os meses de inverno, trazendo o frio, as chuvas e a neve. Mas um de seus principais títulos é Rainha da Tempestade, pois com seu cajado trazia e controlava as tempestades, particularmente as nevascas e furacões.

Cailleach é a guardiã do portal que leva à parte escura do ano, iniciada no Samhain e é invocada nos rituais de morte e transformação. Nos mitos da troca de poder entre deusas, ela recebe o bastão branco dos meses de luz e o torna negro para os meses de trevas, devolvendo-o à Bright no Imbolc. Em alguns mitos diz-se que Ela retorna à terra no Imbolc, tornando-se pedra para acordar somente no próximo Samhain.


Apesar de ser considerada uma Deusa Anciã, ela é quase sempre representada com um rosto jovem, mostra de seu poder de se rejuvenescer constantemente. Esta deusa possui um aspecto de protetora dos animais selvagens contra caçadores, principalmente o cervo e o lobo, assegurando bandos saudáveis. Há um mito antigo que conta que os caçadores oravam a Cailleach para saber onde encontrar os cervos e quantos matar. Ela os guiava para a aqueles que podiam ser mortos, desobedecê-la trazia sua fúria, em forma de ataques de alcatéias para a vila dos desobedientes.

Esta deusa também possui um aspecto regedora da saude/ infermidade, sendo aquela a quem as mães pediam que curasse seus filhos das doenças do inverno. O Gato é um de seus animais sagrados. Em algumas lendas ela toma a forma de gato para testar o caráter das pessoas. Em sua forma humana, ela costumava ir de casa em casa no inverno pedindo abrigo e comida. Os que a acolhiam contavam com sua eterna bênção e proteção e os outros eram amaldiçoados e não atravessam o inverno incólumes. São também sagrados para ela o corvo e a gralha.

Ela carrega um caldeirão em uma das mãos e um cajado na outra. Seu cajado ou bastão lhe conferia o poder sobre o tempo, associada também a crua honestidade e à verdade.

Outro mito folclorico é de aparecer como uma mulher velha que pede ao herói que durma com ela, se o herói concorda em dormir com ela, ela se transforma em uma linda donzela.

O Livro de Lecam (cerca de 1400 E.C.) alega que Cailleach Beara era a Deusa da qual se originaram os povos da região de Kerry. Na Escócia ela representa a personificação do inverno, nasce velha no Samhain e fica cada vez mais jovem até tornar-se uma linda Donzela no Beltane.


Tese de etimologia da palavra Cailleach:
(...)
a origem do termo Cale (que logo dará lugar à forma latinizada Gallaecia) parte da Deusa mãe dos celtas Cal-leach, pois, segundo ele, era costume romano nomear aos povos conquistados pelo denominação dos seus Deuses. Isto dá, para lembrar-nos, que o nascimento da Calécia/Gallaecia como entidade política, produziu-se após a batalha do Douro e a posterior conquista romana. Para este autor, os celtas do Douro, virão a ser os Cal-laic-us (Calaicos) ou filhos da Deusa mãe dos celtas Cal-leach, cuja referência se tem encontrado numa inscrição na forma de Calaic-ia no lugar de Sobreira, perto do Porto.
Uma outra analise do radical Cale no âmbito das línguas célticas: Palomar Lapesa (1957) e Alberto Firmat (1966), liga este com o significado de «pedra», «rochedo», «duro», cuja expressão se adequa com rigor às características geológicas e graníticas da cidade, nomeadamente do morro da Sé.
Para Higino Martins (1990) o vocábulo pré-indo-europeu Kala, definido como «abrigo», «refúgio», passou à língua celta sob a forma Cale e com significação de «terra», «montanha». Para ele, o etónimo Calaico/a viria então a denominar ao «da terra», ao «do lugar».
(...)


Cordialmente,
Conselho de Bruxaria Tradicional
http://www.bruxariatradicional.com.br

7 comentários:

  1. Belíssimo texto! Não há escassez de conhecimento quando se trata de mitologia céltica.
    AF Sapinha

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  2. Gostei dessa parte: "O Gato é um de seus animais sagrados. Em algumas lendas ela toma a forma de gato para testar o caráter das pessoas". Fico pensando em quantos não iriam passar nos testes nesse mundo bruxesco! rsrsrsrs

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  3. Concordo plenamente com a Sapinha, este texto é incrível... É relamente muito bom aprender sobre mitologia celta...

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  4. Nossa,

    ai eu AMOO a cailleach! acho que porisso o ritual foi tao profundo! esse texto foi incrível porque eujá estava querendo saber mais sobre essa deusa, e ese poema é arrepiante! =D

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  5. Fascinante! E interessante como todos os Deuses por pior que seja a sua atuação na mitologia, guardam a sua importância inquestionável, pois são atores num papel que só eles cumprem, indispensável para que as coisas se encaixassem e para que o ciclo da vida funcionasse.

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  6. Forte e emocionante!!! o poema inicial é emana tanto poder que posso sentir no sangue e nos ossos cada palavra.

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  7. Fascinante e apaixonante! É a morte que permite a vida através do renascimento, a mutação, o ciclo inevitável da vida. Muito me encantou esse poema e a simbologia que envolve a deusa Cailleach.

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