terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Animal TOTEM - A influência dos animais em Brasões

"(...) é necessário destacar que a heráldica foi o berço inicial de todas as MARCAS e logotipos que infestam o mundo hoje em dia e valem bilhões de dólares. (...)"

Anibal de Almeida Fernandes

O totemismo segue seu curso, resistindo às grandes transformações históricas, em nomes próprios, brasões, marcas de fábrica, selos, timbres, carimbos, medalhas, ex libris e até em marcas e logotipos pessoais. Como ele também se transforma, por vezes seus vestígios são residuais. Mas não é difícil que o totemismo reapareça de forma menos secreta. Bichos... vários. Muitos, até. E, como se estivessem soltos na natureza, eles se proliferam. 

Vale a pena conferir o zoofenômeno, na heráldica, um mundo de signos visuais, onde palavras podem entrar, mas não são os elementos principais. Principal, no brasão de armas, é o desenho. E a moldura, que é o escudo, um limite de "quadro".

Pois é o pesquisador Anibal de Almeida Fernandes, em Heráldica: origens, símbolos, desenhos e sua presença no séc. XXI (fev. /2007), quem esclarece nesse campo.

Os animais mais utilizados em brasões são:

"(...) ►►O leão é o animal mais usado, e importante, ele é o 1o registro heráldico histórico, aparecendo no escudo de Geoffrey Plantageneta em 1127. Entre os 195 escudos relacionados no Herald’s Roll, do sec. XIII, aparecem 43 leões, 3 águias, 3 peixes, 1 urso, 1 coruja, 1 grifo e 1 cegonha. Os dois primeiros reis ingleses a usarem a heráldica foram Ricardo Coração de Leão, fal. 1199, e William I, o Leão da Escócia, fal. 1214, e ambos têm leões em seus brasões. 

 
O 1o grande Selo Real é de Ricardo da Inglaterra que é registrado historicamente em 1189 com 1 leão como arma, em 1195 aparece outro selo real com 3 leões. No séc. XIII começam as regras para normalizar as armas armoriais nos brasões, expl: o leão tem que estar sobre 2 patas e a cabeça de perfil, porém houve um problema com os leões do brasão real inglês que estão sobre 4 patas e com a cara para a frente e foram, por isso, batizados de leopardos da Inglaterra. Porém, no séc. XV, os reis de armas concluíram que o leopardo se origina do cruzamento adúltero do leão com o pardo, (provavelmente um cheetah), e, portanto não é digno/condizente para o rei da Inglaterra usar 3 bastardos em seu brasão e, por isso, os leões da Inglaterra passam a ser chamados de leões em guarda, para distingui-los dos leões sobre 2 patas.

 
►►A águia (pg 30) é a mais importante das aves, é muito usada na Idade Média e tem nos céus a mesma importância que o leão tem na terra.

 
►►O golfinho (igual ao delfim=pg 101), era muito usado e sua importância nos mares, equivale à do leão em terra e à da águia no céu. Guarnece o brasão do herdeiro do trono francês, o Delfim de França.

 
Outros animais:
Em 1510 aparece no brasão de Robert Lord um tragopam, pg 36 que é um pássaro himalaio que apresenta uns pequenos chifres, e não se tem idéia do porque de tal excentricidade(?) em pleno séc. XVI.
 
As serpentes pg 36 aparecem na heráldica da época Tudor, porém outros répteis são raríssimos.
 
Em 1552 aparece um peru, pg 37 adornando o elmo do brasão de Robert Cooke of Midham. Nota: o peru veio da América para a Europa com os espanhóis e, para a Inglaterra com Catarina de Aragão.
 
Em 1591 aparece no brasão de John Brown of Spexall uma ave do paraíso, pg 37 e ela é desenhada sem pernas (pois voava eternamente .... daí, paraíso).

 
A pantera aparece no brasão de Jane Seymour 3a mulher de Henrique VIII, morta em 1537, pg 75.

 
O tigre pg 69.
O castor pg 32 que reza a lenda que, quando perseguido, se castra a si próprio com seus dentes (parecendo saber que os seus testículos são muito valorizados para o tratamento médico).

 
O elefante, pg 81 freqüentemente com um castelo nas costas.

 
Os insetos, aracnídeos e crustáceos, foram de uso muito limitado na época medieval e no período Tudor, com algum destaque para: o gafanhoto (pg 43) e o besouro (pg 43).

 
Os camaleões (pg 41) e os sapos (pg 42) esses, sempre de perfil ou de frente. Uma questão intrigante sobre sapos como arma armorial é o brasão do rei Faramundo, ancestral dos reis merovíngeos (ele é considerado bisavô de Clovis Meroveu, séc V d.C., fundador da 1a Dinastia real de França), que mostra 3 sapos em um campo negro pg 31. A dinastia merovíngea dá muita importância aos sapos dando-lhes qualidades místicas e vem dessa época as histórias de fadas com o sapo virando um príncipe no final. Vem daí, também, o costume dos flamengos na guerra dos 100 anos, chamarem os franceses de froggy, (sapo).

Aqui se pode intuir uma possibilidade histórica, pois como o sapo vive nos rios, entre as Íris aquáticas, pode haver nisso uma explicação para a evolução do sapo do brasão de Faramundo, para as flores de lis do brasão real de Luiz VII de França, da 3a Dinastia Real de França, 700 anos depois (item 10).

 
O cavalo pg 112 aparece muito raramente na heráldica, pois era considerado um animal subserviente e, portanto, sem nenhum apelo de bravura. 

 
O macaco pg 92.
O antílope pg 68. 
 
O arminho, pequeno rato da Armênia, (branco com a cauda negra) é muito usado desde o início da heráldica no séc. XII, principalmente na Bretanha. 
 
O veiro (vair) é um gato africano, cinza azulado, com a pele usada nos mantos reais, e muito usado na heráldica a partir do séc. XII e aqui cabe uma nota de amplo interesse: 
 
“houve um erro na tradução da antiga história da Cinderela e os seus famosos sapatos de Vair (pele de veiro) foram erroneamente traduzidos por Verre (vidro) e se consagrou esse erro grosseiro, como os famosos sapatinhos de cristal !
 
Nos séc. XVI, XVII, XVIII, as armas armoriais são muito convencionais, usa-se muito o lobo, o urso e o falcão. A raposa, por ser pouco nobre em suas qualidades, quase não é usada.
 
No séc. XX aparecem o salmão, a truta, o peixe papagaio, o peixe voador e o peixe sol.
 
O escorpião é muito usado no séc XX. A aranha está ausente das armas armoriais, apesar de fazer uma correspondência com o nome de família Web ou Webber (...)".





Fonte: http://www.sfreinobreza.com/anibalheraldica.htm

2 comentários:

  1. Interessantissimo o texto
    nada é fora de um contexto real da época

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  2. Isso se chama pesquisa séria, e não a distorção de valores para caberem na filosofia pessoal, eis a diferença de um "visionário cego" de alguem que busca seriedade no caminhar.

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