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Trata-se de uma gravura com mais de 23.000 anos encontrada numa parede da gruta de Almeria e representa um rosto humano de perfil, de acordo com seus descobridores. "Este é o mais antigo retrato da pré-história", diz Sergio Ripoll, doutor em pré-história da UNED , e co-descobridor da gravura.
O investigador já demonstrou por várias vezes o seu “olho clínico” para este tipo de descobertas, tendo em 2005 encontrado em Inglaterra cavalos e auroques pintados com 14.000 anos de idade em Crags Creswell. Essas pinturas foram classificadas como as mais antigas do Reino Unido.
À primeira vista, a parede da Gruta de Ambrosio não apresenta mais do que algumas rachaduras. Mas na sua textura Sérgio Ripoll e o seu colega da UNED Francisco Javier Muñoz descobriram gravuras com representações de animais e, pela primeira vez num sitio com estas cronologias, a representação de um rosto humano sem pêlos e com a boca semi-aberta de 25 centímetros de altura e dez de largura.
As linhas "foram feitas com mão firme" e têm uma espessura de menos de três milímetros, de acordo com estes dois investigadores que explicam a descoberta num estudo ainda não publicado, mas cujos resultados essências foram já apresentados numa conferência sobre a arte rupestre em Almeria.
Cientes da descrença que pode causar a sua descoberta, os dois investigadores já decidiram apresentá-la a dezenas de especialistas em arte rupestre. "Vamos colocá-los em frente à parede e perguntar o que eles vêem. Estamos dispostos a aceitar o que eles têm para dizer ", disse Ripoll.
Desde 1992 esta equipa encontrou 30 figuras rupestres pré-históricas entre gravuras, pinturas de cavalos, aves e gado, na Gruta de Ambrosio, Sítio classificado como de Interesse Cultural desde 1986 .
Dúvidas sobre o achado
Se for confirmado como válido, o retrato será algo único. "Até agora apenas foram encontradas figuras mescladas, com características humanas e animais , as designadas representações antropomórficas”, explica Muñoz. Os retratos mais antigos conhecidos até agora foram encontrado na gruta de “La Marche” , na França, foram datados de há 15.000 anos e atribuídos à cultura Magdalenense . É dentro dessa ambiência cultural que pertence a representação de Altamira , embora um novo estudo atribua a algumas de suas pinturas uma idade muito mais antiga do que se pensava . Estas novas gravações de Almería correspondem a uma cultura anterior, o designado Solutrense .
"Eu não posso afirmar claramente que se trata de uma figura humana ", diz o arqueólogo francês Jean Clottes , depois de ver as fotos do suposto retrato. Agora aposentado, Jean Clottes é um dos pré- historiadores e especialistas de arte rupestre mais relevantes de França, tendo estudado, por exemplo, as pinturas rupestres de do Abrigo de “Chauvet” , uma das representações de arte paleolítica mais famosas do mundo.
Embora Jean Clottes tenha consideração pela investigação desenvolvida por Ripoll, é implacável na sua apreciação. "Eu acho que não há nenhuma evidência de traço Paleolítico. O desenho apresentado na foto parece seguir os relevos naturais da rocha”.
“É difícil ter certeza relativamente a esta figura, pois os traços são pouco claros", diz o especialista em arte rupestre, Denis Vialou , do Museu Nacional de História Nacional da França . "A presença do pigmento depositado na parede parece claro e a leitura de uma cabeça é possível", admite, mas não adianta mais nada até ver o original na gruta com seus próprios olhos.
Caçadores nómadas
nesta altura um grupo de humanos era constituído por 25 ou 30 membros, todos dedicados à caça e à colecta nómada. Há 23.000 anos atrás, durante o período conhecido como Solutrense superior, Almeria estava coberta com pinheiros, faias e castanheiros e com algas marinhas de grande porte. Sergio Ripoll acredita que os humanos habitavam aqui " da Primavera ao Outono" e depois mudavam-se para áreas mais próximas à costa.
Naqueles tempos, os momentos mais agradáveis do dia aconteciam à volta do fogo. "As temperaturas eram até 20 graus mais baixas do que agora durante o inverno e verão", diz Javier Muñoz. Os habitantes da caverna faziam grandes fogueiras de "sete ou oito metros de diâmetro" para aquecimento, cozinhar e fabricar armas, especialmente as setas. Tratam-se de peças inconfundíveis, de acordo com Ripoll, já que são feitas com uma variedade de "silex" que só é encontrado nestes vales.
"Eles comiam cabras e muitos coelhos e pensamos que a caça destes últimos era sobretudo realizada por mulheres e crianças, enquanto os adultos estavam envolvidos na caça de animais de maior porte", disse Ripoll.
Pepillo é um enigma
Mais de 23.000 anos medeiam entre a figura agora alegadamnete descoberta e os olhos dos investigadores que hoje a estudam. Quando se pergunta porque desenharam os nossos antepassados estas representações, encolhe-se os ombros. Não sabemos! "É como se hoje se colocasse um homem da Idade Média no meio das ruas de Madrid e visse os sinais de tráfego. Seria impossível para ele entender esses sinais, porque não tem qualquer código para os interpretar ", argumenta Francisco Javier Muñoz.
Os investigadores não sabem quem é a personagem que está imortalizada na gruta de Ambrose, em Almeria, mas acreditam que se trata de um retrato. Por isso o batizaram de “Pepillo”.
O objetivo agora é ir em frente. Ripoll e Muñoz desejam publicar as considerações que julgam necessário fazer sobre “Pepillo” e, claro está, continuar a investigar o lugar, devendo para tal pedir ao Conselho de Andaluzia que lhes dê autorização para retomar as escavações.
Fonte: Materia