terça-feira, 23 de agosto de 2011

BRUXARIA TRADICIONAL - Relato Peregrino de honra a Brighid

 
Metáforas desenham entre as linhas segredos para aqueles que entre elas se encontram. E já há algum tempo aguardava esta benção! A ansiedade me crivou com suas unhas, marcando-me as centenas de dias que se estenderam. A angústia da distância desintegra-se impotente ante o reencontro dos que chamo de fraternos, e, Oimelc em cada minúcia se mostra imponente. Brighid em teu coração infinito de grandeza sempre declara haver espaço para mais dos filhos bastardos desta terra, filhos estes que acolho como fraternos da mesma forma que fui acolhido quando eu bastardo vagava procurando por uma família. E à vocês, novos em nosso caminho, novos em nossa fraternidade, desejo e peço força, perseverança, sabedoria, e, respeito à tão amada tradição que cultivamos.

E o que ganhamos em troca? Tudo que fordes capazes de segurar entre vossos braços! Como é generosa nossa mãe! Que abençoa não somente teus filhos, mas todo este solo que abriga tuas criações. Desde o fogo que transforma em teu seio o que não mais nos serve até o espectro das cores noturnas tão vivas que parecem refletir o dia. Onde há vida esta se manifesta por vossa vontade! Ensina-nos por carinho com a paciência que não existe ainda em nossa personalidade borrada. O balançar de vossas longas mechas de cabelo faz brotar as flores que enfeitam nossos campos. Teu sorriso suplica para que se levante o horizonte rubro alegre, que em facínio se ergue contente e, por tua nobreza, amanhece em nós um novo tempo, afogando o passado cíclico, envolvente, oportunista e predador de nossa consciência.

Quanta gratidão amada mãe! Tantos presentes empilhados num espaço tão discreto, presentes ausentes em materialidade, transbordando vosso bálsamo cristalino sobre meu espírito. Encontro-te onde eu procurar… Ali sempre e sempre estás. Que oportunidade é tê-la ao nosso lado, fitando-nos como filhos amados. Sigo-lhe hipnotizado tentando imprimir firmeza em meus passos. E no fogo eu aprendi! E foi no fogo que tu me ensinaste o canto que atiça a chama, ensinaste-me que o ar que respiro é muito mais do que apenas veículo! Há magia nos teus mais simples gestos, borrifando vossa sede da restauração pelo ar. Semeia a alegria onde tocam vossos calcanhares.

Entrei na fogueira aquele menininho apreensivo que noutro dia chegou, hoje saio da fogueira como realmente sou… Queimei os segredos que um dia tranquei numa caixinha, e tu mostraste as respostas que eu não tinha… O Mestre há tempos já dizia junto à fogueira, que há mais vida onde está a fogueira.

Ao teu pedido parei, olhei, respirei, e compreendi que não há nada de errado a nossa volta. As cousas acontecem no andamento dum ritmo tão perfeito, assim como as nuvens vão bailando pelo espaço largo numa fila respeitando o lugar de cada uma sem embaraçar-se em sua união... Indaguei pelo equilíbrio, e o espasmo sarcástico das noures me ensinara que aqueles como eu, que procuram pelo equilíbrio aos flancos, estes sim, penderiam no desequilíbrio que sonda a margem da incerteza... Pois, como equilibrar-se num mundo que gira a todo o instante em todos os sentidos? Vossa vóz doce me disse: Tolo sois vós, que atenta contra o ritmo próprio de vossa natureza, assume tua pequenez e acompanha as sábias ondas ao invés de correr contra a correnteza.

Num piscar de olhos estava eu de volta, no lugar de onde nunca saí... E, o tempo que nunca existiu caçoava das minhas frágeis verdades desabadas aos pedaços pelo chão, que de tão espalhadas, obrigaram-me a desistir de juntá-las. Quanto mais alto tu me levas, mais distante percebo que sempre estive de alguma verdade. Obrigado Brighd!
 
Att.
Conselho de Bruxaria Tradicional Campesina no Brasil
 

2 comentários:

  1. É tão sutil esse festival, que o Awen flui naturalmente nas pessoas. Parabéns!

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  2. Ao ler este relato novamente me transporto para o dia desta vivência, de fato tão rica e meu coração de imediato se aquece com o fogo de Brighid. Que até que a roda gire novamente toda esta inspiração nos acompanhe em todos os nossos caminhos!

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