quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O Ritual de Beltane - 2. Parte - Ricardo DRaco


Ao descarregar as mochilas, seguimos em busca do guia do local, visitamos sua moradia e nos sentimos em casa, uma casa modesta, simples, mas que fazíamos entender que a beleza da vida esta na simplicidade, na tranquilidade do banco embaixo de uma árvore, do acolhedor fogão de lenha.

Conversamos muito e traçamos projetos para o feriado, voltamos para a pousada já com o guia e lá nos preparamos para a primeira viagem ao mundo espiritual, fomos em busca do local para o festival de Beltane e assim pegamos a estrada de pedras da cidade até sairmos em locais onde existiam grandes fazendas, o cheiro da terra molhada pelo sereno matutino era maravilhoso, uma sensação de paz ao observar ao longe as montanhas e nenhum pensamento seria mais digno do estar em casa, sentir o caminhar pela terra, pela grama, escutar o vento cruzar a pradaria, observar as aranhas a caminhar sobre suas teias que brilhavam com os raios do sol tornando-as prateadas, o vento gentio que soprava e o calmo caminhar em silêncio observando as ervas e conhecendo pessoas simples, mas com grande conhecimento; chegamos até uma cabana, o local era visitado e podíamos acompanhar os produtos caseiros, queijos, doces de leite, pães, entre outros artigos e artesanatos, ficamos nos fundos dessa cabana e lá corria um riacho de agua cristalina, o som era uma melodia que nos deixava reflexivos. A dona do local apareceu, era uma senhora tranquila e amorosa, nos chamou de irmãos de caminho, ela mesma tinha dado muito a sociedade e hoje fazia um trabalho mágico mais familiar, acho que se cansou da ingratidão humana, lamentamos e nossas cabeças se inclinaram para o chão de terra, por fim mudamos a prosa e ela seguiu tal como nós também, agradecemos a oportunidade bem como agradecemos a terra ter nos dado as dádivas de suas ervas, do seu saber.


Decidimos seguir em frente e lá um conhecido comentou sobre o ermitão que se recolhia bem para dentro da mata, era um ancião magro e alto, lembrava a figura do Gandalf do filme Senhor dos Anéis, com seus cabelos compridos e uma longa barba, dizia conversar com as plantas e filosofava com o vento, o encontramos na estrada, estava indo para o rio, por ter medo das aguas se amarrava nas árvores para tomar banho, antes de mergulhar no rio acendeu o seu tabaco e nos ofertou como uma oferenda hospitaleira; o Sol estava muito forte, porém ao entrar na região próxima ao rio, as árvores promoviam um ambiente fresco, uma sombra mesclada com os raios do sol das aberturas da copa das árvores.


Saímos do local e fomos à casa do ermitão, era um local entre morros que em uma pequena abertura no capim alto nos levava a uma trilha que descia por um local cheio de flores, era como o romper de realidades e lá ficamos um tempo, recebemos conselhos e um pó mágico advindo de ervas colhidas em determinado tempo, de acordo com as estrelas, após a esperada chuva da semana, o pó era uma mescla de componentes vegetais, seu cheiro era embriagante, algo amorosamente colhido, mágica pura, voltamos maravilhados pela estrada, porém o torpor da subida nos banhou com o cansaço de quem sobrevive na grande floresta de pedra, acredito que tenha sido uma grande purificação, cansaço, contudo um poder de vida muito grande em que para rir tivemos que abaixar para apoiar as mão nos joelhos.

Voltamos para o vilarejo de São Thome das Letras e lá encontramos nossos irmãos que nos esperavam com os olhos carregados de esperança e curiosidade, fomos ao mercado e compramos todos os artigos, além dos já adquiridos pela floresta para começarmos a fazer a poção ancestral para o ritual que viria no entardecer... (continua)

Abraços Fraternos!
Ricardo DRaco