sexta-feira, 25 de novembro de 2011

BRUXARIA TRADICIONAL - Sobre o Eurocentrismo

Surgiram mais questionamentos sobre o que é Bruxaria Tradicional, mas primeiro devemos entender a ter um mínimo de base conceitual, fica muito difícil argumentar assuntos tal como o porquê da agua molhar e o fogo queimar e de terem esses nomes em específico, essas questões filosóficas possuem um nível de reflexão não cabível a teologia, classificamos como a natureza de essência. Pronto! Dai teremos a crítica que isso é um dogma (?), francamente... o que temos percebido é que muitas pessoas tentam classificar os caminhos religiosos de um modo muito generalista e com isso logicamente que ficam com uma ideia confusa, pois nem todos tem a mesma visão de mundo, por estas questões que existem os caminhos filosóficos/ religiosos, para dar um leque de opção para que cada pessoa se encontre.

Voltando a questão do "eurocentrismo" para Bruxaria Tradicional, essa é uma visão distorcida, pois o eurocentrismo trata de uma visão de mundo que tende a colocar a Europa (assim como sua cultura, seu povo, suas línguas, etc.) como o elemento fundamental na constituição da sociedade moderna. Dizemos que isso é bem contrário ao que defendemos, visto que incentivamos que as culturas tradicionais não sejam chamadas de Bruxaria indiscriminadamente, e que essas culturas preservem o seu agregado cultural, mais especificamente a sua religiosidade, realmente não vemos a necessidade de taxar as crenças africanas e do extremo oriente como Bruxaria e tão pouco como a visão cristã para práticas de malefício (bruxariaS).

Outra crítica a Bruxaria Tradicional são os ditos atos de sectarismo, essa é outra visão tortuosa, pois um caminho religioso tem seus parâmetros, suas regras, suas condutas e até mesmo suas específicas práticas, todos nós temos a liberdade de escolher um caminho, mas a partir que escolhemos um caminho temos que estar convictos que ali é uma visão restrita de crença e esta pode estar vinculada (e provavelmente esta) a um povo e a uma etnia predominante. E o que é uma etnia? Uma etnia é uma comunidade humana definida por afinidades linguísticas e culturais que geralmente reivindicam para si uma estrutura social, política, religiosa e um território.

E logicamente teremos mais perguntas e acusações, se falamos de etnia logicamente que teremos as críticas equivocadas sobre preconceito racial, e novamente vamos esclarecer que o fato de existir uma origem étnica não quer dizer que é uma regra limitar o acesso de pessoas de outras etnias.

Como podem perceber, isto não pertence exclusivamente a religiosidade da Bruxaria Tradicional! Estamos debatendo críticas morais, éticas, filosóficas do que poderia ser ou não e até mesmo discutindo a relação de essência dos elementos do planeta (?), pois agua é agua em qualquer lugar do planeta do mesmo jeito que gente é gente também, pensando com essa perspectiva todos somos irmãos pela humanidade tal como verde pode ser qualquer coisa do reino vegetal, então qual o motivo de separar árvore de capim? Se concordarmos que não existe a necessidade do rótulo e da fragmentação de atributos, então eu tomarei um chá de capim santo e quem não concordar que tome um chá de capim apenas... afinal são parecidos!

É natural que o paganismo tal como o cristianismo tenha suas premissas, cabe a você se conhecer com propriedade para optar e não pensar que estando em um deles existe a necessidade de mudá-los para comportar o que suas crenças individuais dizem, se houver muitos choques provavelmente você não se conhece quanto imaginava e fez a escolha errada.

Dentro do paganismo encontraremos um outro patamar, as diversas crenças tradicionais, portanto estamos até o momento falando de crenças globais, contudo focando em um determinado tipo de orientação de crença, irá chegar o momento que a especialização tomará o lugar da generalização!

Uma pessoa se descobre pagã, acredita nas crenças da floresta (resumidamente), dai ela entende que sua ligação esta voltada às crenças nativas da terra, acha importante a questão cultural e entra em mais um nível que chamamos de crenças tradicionais, e então ela se sente confortável em ser um tradicionalista genérico, conhece do Norte da África até a China, mas ainda não é o suficiente, ela ainda não se encontrou e vai à busca de algo mais específico, algo que venha de encontro por afinidade ou por questões ancestrais e então ela se encontra em uma região específica e lá encontra a Europa e suas diversas religiões, seitas e crenças.

Dentro do universo Europa, teremos diversas crenças, contudo notará que a Europa é em grande maioria Católica e Protestante e como estas são religiões cristãs e como vimos acima à inclinação de nosso exemplo é pagão somos direcionados a buscar as crenças pré-cristãs.

Chegamos a Bruxaria? A Bruxaria é uma forma de culto ancestral dos povos originários da Europa e muito embora tenhamos que criar um rótulo que demonstre um padrão antropológico de crenças específicas ainda assim excluimos os movimentos migratórios continentais. Então acabou é isso? Não! Ainda tem a necessidade de afinidade/ entendimento de culto.


Complexo? Muito! E isso fica ainda mais aprofundado quando argumentamos que a Bruxaria Tradicional é um agregado das famílias europeias e, portanto muito mais fechadas, é o que chamaremos de Bruxaria Familiar ou Hereditária, e aqui entendemos que é a argumentação final da sintese religiosa.


Dai surge a pergunta, quando alguém diz ser um bruxo familiar, um hereditário ele:


1 - Ele esta ligado a uma família originária europeia
2 - Ele pode estar ligado a uma instituição/ Ordem de Bruxaria Tradicional.
3 - Ele é um tradicionalista
4 - Ele é um pagão

Isto é um dogma? Não! É um entendimento conceitual, é uma visão que provavelmente não dará 100% das respostas, pois como colocamos, temos que analisar a premissa que as generalidades tendem a serem simplistas e que cada caso deve ser analisado pela conduta, pela sabedoria, pela religiosidade, entre outras conformidades que demonstrem afinidade de caminho.

Mas até então estamos falando das línguas ibéricas, e como ficaria nas outras línguas europeias? Pelos critérios de analogia de fundamento religioso, de culto, de regionalidade, da ligação etnica e do reconhecimento entre grupos.

Em via de regra é basicamente isso, mas o grupo lá no continente Africano faz o mesmo (alguém pergunta), então concluímos que o tal grupo é pagão, é tradicional e se houver uma migração do conhecimento originário dos grupos de Bruxaria Tradicional ou das famílias pagãs europeias deverá ser analisado cada exceção de forma especialista .

Outra pergunta sobre a questão da língua, todo tradicionalista preza a cultura ancestral, portanto alguém que siga a "Bruxaria Tradicional" Alemã ele ira falar alemão, ele vai estar ligado à herança cultural de sua região, e provavelmente terá um nome próprio para o termo Bruxaria, muito embora por questões sociais e por questões de agrupamento, reconhecimento de crenças e por estarmos em um pais de língua portuguesa essa sensibilidade de utilizar do termo Bruxaria de base Tradicional seja comum.

Ficou confuso? Normal, pois o estudo das religiões é bem mais complexo do que aparece, para a nossa sociedade de base cristã; estamos acostumados a padrões e tendemos ao generalismo como solução imediata, então citar bruxaria como qualquer crença marginalizada é um paliativo, tal como citar xamanismo para toda cultura de base nativa. Entretanto quando saimos da argumentação e entramos na prática, na vivência percebemos de forma mais transparente, pois saimos do mundo do que poderia ser para o mundo real, de experimentações, de comparações, de reconhecimentos e acaba por se tornar algo muito fluídico e natural.

Havendo dúvidas escrevam, mas por gentileza com dialogo e não com acusações, pois ninguém é obrigado a acreditar em algo, a seguir algo, a concordar com tudo, mas deve existir respeito e algum embasamento, criticar por criticar de forma desrespeitosa é algo que não vai muito para frente, e nós que somos seguidores de um caminho não somos abrigados a todo momento justificar nossas crenças, pois cada um com sua religião, com seu aprendizado.

Quando me pedem uma opinião, saibam que essa opinião vai ser de um tradicionalista muito embora eu respeite uma visão mais eclética, mas não esta em um tradicionalista apoiar o ecletismo, o sincretismo, visões globalizadas entre outros conceitos que para nós não faz o menor sentido.

Agradecemos a todos que analisam nossos artigos e aos que não concordam que sejam felizes em outra linha religiosa.

Gratidão,

Ricardo DRaco

CONSELHO DE BRUXARIA TRADICIONAL NO BRASIL