sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O Ritual de Beltane - 3. Parte - Ricardo DRaco


Voltamos para o vilarejo de São Thome das Letras e lá encontramos nossos irmãos que nos esperavam com os olhos carregados de esperança e curiosidade, fomos ao mercado e compramos todos os artigos, além dos já adquiridos pela floresta para começarmos a fazer a poção ancestral para o ritual que viria no entardecer.


Tudo nos conformes, poção concluída, espíritos preparados para migrar entre mundos, atravessamos os muros da cidade, caminhamos pela grande escada de pedra, em zigue e zague, e aos poucos alcançamos o voo, sobre as montanhas, sobre a floresta, sobre as pradarias, caminhamos por lugares inimagináveis, para além desta realidade, sentimos o vibrar das pedras, o cantar dos ventos a acariciar nossos rostos; adentrando na clareira sagrada, um local cercado pelos guardiões, inacessíveis ficamos, invisíveis aos olhos curiosos, e lá preparamos as grandes torres de fogo e suas labaredas alcançavam as estrelas, o vento brincava com a fumaça. A sagrada hora de repensar sobre a nossa jornada, sobre os caminhos da sabedoria ancestral, e lá fizemos nossos jogos de poder, e lá recitamos as palavras da floresta, e lá em solo cercado por elementais, por seres que se escondem nos arbustos, na fumaça, nas pedras, unindo tudo e a todos em um imenso girar, na roda do universo, em total simplicidade, contemplando o essencial motivo mágico de culto, de se estar em plenitude, em fraternidade, sem meias verdades, sem limitações, sem o individualismo.

Em minha lembrança vejo a irmã ursa com seus olhos de fogo perante a fogueira, brilhavam, as conversas sentados ao chão observando os outros que se misturavam as sombras, a terra, o irmão serpente deitado ao chão em silêncio meditativo, a loba que se transformara e seu irmão mais novo sempre por perto a contemplar o local, lembro-me do poder felino em estado meditativo e sorrindo com suas presas em divino êxtase de liberdade, a irmã corvo sentada voava com seus olhos negros pela imensidão, os irmãos insetos se escondiam e era preciso fixar o olhar para encontrá-lo entre os outros irmãos, a irmã sapo ia e vinha, sentava e abraçava, estava inquieta no bailado dos ventos,  o irmão horse adormeceu com as mãos na fronte, e assim todos bailavam em seus totens perante a noite, perante o beijo do vento e fogo, e as montanhas nos observavam ao longe, tal como se nos vigiassem, e atrás delas raios vinham e iluminavam a escuridão.



Ao primeiro choro do céu nos retiramos e então... (continua)


Abraços Fraternos!
Ricardo DRaco