segunda-feira, 9 de maio de 2011

Os Sacerdotes Celtas pt.1: Papéis e sociedade

Para entender um pouco sobre os Druidas, temos primeiro que compreender o contexto em que viveram e desenvolveram sua Religião, ou seja, na cultura Celta. Como a maioria dos povos de origem indo-européia e proto-indo-européia, os celtas demonstraram ter um rígido sistema social. César, que conheceu diretamente os celtas da Gália livre, definiu o sistema que conheceu como um modelo de sociedade tripartite, dividindo-o da seguinte forma: éqüites (cavaleiros), druis (sacerdotes) e plebs (plebe). Exceto a definição de druis, as outras duas estão claramente latinizadas, aparentemente para que fossem entendidas por seus concidadãos. Mas porque então César continuou a chamá-los de Druis? Uma possibilidade é devido ao enorme prestígio e respeito que a classe sacedortal teria entre o povo Celta, e que junto com o poder e inteligência que demonstraram possuir causou certa admiração e receio em César.

Origem da palavra

Teorias dizem que a palavra Druida pode ter derivado do vocábulo grego δρυs. A definição mais antiga procede por Plínio, que nos diz que os Druidas tomaram seu nome do carvalho (do qual recolhiam a seiva e comiam as bolotas para adquirir seus poderes e dons de adivinhação). No entanto, diversos estudiosos modernos tem indicado uma definição talvez mais precisa buscando no estudo lingüístico associações com línguas Bálticas, Germânicas e Eslavas, onde os Druidas seriam algo como "os prudentes" ou "muito sábios". Plínio, porém preferiu apontá-los como "homens do carvalho" ou, de certa forma, "aqueles que tem o conhecimento do carvalho", árvore esta que era considerada sagrada para os Druidas.

O papel e a presença perante a sociedade

Tentaremos definir as funções atribuídas aos Druidas, assim entenderemos melhor sua capacidade de influência sobre o povo. Muitos autores clássicos nos falam delas: [... Na Gália os Druidas dirigem sacrifícios, nos quais, em muitas vezes são eles os próprios sacrificadores...] (a quem Estrabão chama de vates). Mas uma de suas principais funções religiosas era a adivinhação. Pressupõe-se que para tanto entrariam em situações de transe e êxtase. Powell diz que [... o êxtase, o transe e o poder de metamorfosearem-se, todos indicam a mesma relação genérica entre o que seriam os magos celtas e os xamãs da religião nórdica Eurásia...]. Segundo nos conta César, também teriam funções jurídicas, e que se pronunciavam sobre quase todos os litígios, fossem públicos ou privados. Possuíam certa autoridade de natureza política, que se enxerga claramente na Irlanda, onde, o rei não poderia falar antes do pronunciamento de um Druida.

[... Os Druidas desempenham o papel de educadores dos jovens...]. Obviamente que esta seria uma das facetas druidicas mais temidas por César, que diz terem direcionado por vezes seus discípulos ao poder. Esta é uma afirmação um tanto áspera e pode ter sido uma propaganda contra a classe druidica, mas em alguns pontos pode estar certa, um exemplo claro é o fato de um aristocrata ou nobre poder ser educado como Druida.

Qual seria o motivo para que estes sacerdotes estivessem tão arraigados na cultura? Uma possibilidade é a de que seria pelo caráter altamente coesivo que sempre teve o druidismo! [... A constituição do sacerdócio dos Druidas foi o aspecto mais interessante e surpreendente, a organização de uma sociedade religiosa que fez dos celtas um povo coerente...]. Hubert nos disse ainda que [... O estudo analítico e comparativo da instituição do sacerdócio druídico, demonstra o quão essencial esta era para a organização das sociedades celtas...], neste ponto de vista, parece óbvio que os Druidas não tivessem nenhuma dificuldade em exercer qualquer tipo de influência sobre seu povo. Segundo Diodoro Sículo [... os Druidas mantêm todo o povo submetido a eles...] e explica a seguir: [... porque o povo crê que “eles sabem a língua dos deuses”...] ou seja: eles se tornaram indispensáveis para manter o bom relacionamento entre os homens e os deuses, e com isso a ordem do mundo.

Além disso, a história nos mostra claramente como o druidismo foi o último bastião de resistência das sociedades celtas contra os romanos na Gália, Britania e frente ao cristianismo na Irlanda, onde era conhecido e temido pelos romanos... A julgar pelas campanhas que seus generais patrocinaram contra os santuários de Britânia, e pela desqualificação que sofreram os Druidas na Gália e Irlanda. [... As peregrinações dos Druidas e suas reuniões com o povo cimentavam a união dos celtas e o sentimento de irmandade...].

O druidismo foi uma instituição pancéltica. César ao testemunhar seu poder nos conta que havia Druidas na Irlanda e na Britânia. Sem dúvida, assim nos diz César também que haveria Druidas na Gália. Apesar de não haver relatos que os localize nas regiões da Itália, Espanha, Galácia e no Vale do Danúbio, não se descarta esta possibilidade. Alguns autores apontam a adoração de muitos dos deuses pancélticos na Espanha, a saber: Lug, Esus, Tarannis, Teutates, entre outros. López Monteagudo indica que [... Na Hispania Celta não é dada a existência de uma forte classe sacerdotal entre os Druidas, mesmo no ofício do sacrifício...], ele mesmo nos aponta ainda que [... Existiu em toda a área indo-européia da Península Ibérica um culto generalizado às águas, aos bosques, montanhas e pedras...]. Dão prova disso outros autores clássicos que falam sobre cultos a lua, às águas e montanhas. Cultos estes comuns praticamente à totalidade do povo Celta. A presença de deidades pancélticas e de cultos à natureza tão semelhantes em regiões tão distantes seria algo difícil de concretizar-se se não houvesse de uma classe sacerdotal disseminando-os, mesmo se considerarmos o caráter migratório que tinha a civilização Celta. Continua [...]

Índice dos artigos:


Fontes e Bibliografia:
Funcación Icaros: http://www.fundacion-icaros.org/;
The Druid Network: http://druidnetwork.org/;
Templo de Avalon: http://www.templodeavalon.com/modules/articles/article.php?id=85;
Os Druidas, Prof. Dr. João Lupi. Departamento de Filosofia/ UFSC, Brathair 4 (1), 2004: 70-79, ISSN 1519-9053;
Os Druidas: Os deuses celtas com forma de animais, H. D'arbois de Jubainville, 1ª ed. Madras Editora Ltda, 2003. ISBN 85-7374-674-2;

Cordialmente
Conselho de Bruxaria Tradicional
http://www.bruxariatradicional.com.br/

Um comentário:

  1. Muito interessante, creio que a história dos Druidas, e do povo celta, demonstra bem a "hierarquia" da BT.

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