quarta-feira, 18 de maio de 2011

Os Sacerdotes Celtas pt.4: O declínio

O conhecimento de César sobre os Druidas não se deve somente ao intercâmbio que teve com os povos, mas também ao apoio da própria classe, como demonstra H. D'arbois de Jubainville [... Júlio César, durante a guerra das Gálias, gozou do apoio do druida Deuiciacos, do qual ele gaba o zelo pelos interesses do povo romano, a boa vontade em vista do próprio conquistador. Com efeito, Deuiciacos queria sinceramente a aliança dos Aedui (Eduanos), seus compatriotas, com os Romanos. Júlio César não diz que Deuiciacos fosse Druida. Nós o sabemos por Cícero que conheceu em Roma o Eduano Deuiciacos, enviado em embaixada ao Senado por seus concidadãos...]. Apoio que foi fundamental na conquista da Gália pelos Romanos.

Entretanto, é sabido que a manutenção da classe, pelo poder que possuíam, não era interessante aos romanos... Inicia-se a oposição (que antes não passava de especulação e política de desmoralização a fim de ganhar apoio público e criar instabilidade entre os celtas) através de decretos imperiais: primeiro o de Augusto (63 a.C./14 d.C.) que os excluiu da cidadania romana, depois o decreto senatorial do tempo de Tibério que proibiu a sua existência, e finalmente o de Cláudio (54 d.C.) que aboliu por completo os Druidas, tornando sua crença ilegal. Apesar da promulgação de três decretos sucessivos é curioso que após três séculos ainda se falaria dos Druidas como classe importante e respeitável.


O Druidismo possuía força em outras regiões ocupadas pelos povos celtas. O Império Romano não deu trégua aos adeptos e sacerdotes, acusando-os de praticarem uma religião nefasta, alegaram terem estimulado em larga profusão o sacrifício humano e o canibalismo. Foi o Imperador Cláudio (10 d.C./54 d.C.) que levantou a caçada contra os Druidas que desde Augusto eram perseguidos. Próximo a 43 d.C., o Imperador Cláudio já havia exterminado o que seria o druidismo e conquistado a Bretanha, criando então a província romana da Bretanha. Publius Cornelius Tacitus (55 d.C./120 d.C.) narra a caçada aos Druidas na ilha de Mona (atual Anglesey no País de Gales) um de seus últimos refúgios, quando Roma junto ao governador da província Suetônio Paulino ordena a derrubada e a queimada dos bosques de carvalho e casas. Os altares foram jogados ao chão e os sacerdotes Druidas assassinados. Os romanos avançaram por seus domínios caçando os Druidas e seus adeptos até dizimá-los nesta região. Este seria um dos muitos motivos pelo qual se deu a famosa Revolta Boudica.

O druidismo viria a sobreviver ainda na cultura dos pictos e escoceses até a chegada de São Columbo e São Patrício, portadores do cristianismo apostólico romano, grande estimulador do combate às crenças tidas como “hereges”. Em largos passos foram proibidas as festividades e os cultos às deidades pagãs. A festividade que o cristianismo não conseguiu extinguir transformou em datas sagradas cristãs ou absorveu modificando naquilo que lhe interessava buscando o “sincretismo”. Exemplos clássicos são a canonização da deusa gaélica Brigit (Santa Brígida), a criação do natal, finados, páscoa, entre outras. É passível considerar ainda que o cristianismo foi aos poucos arrebatando adeptos de forma voluntária e pacífica, motivo pelo qual teve crescimento tão massivo sobre o druidismo, uma prova clássica é o Livro de Kells "Book of Kells", uma versão das escrituras cristãs (ao todo 4 evangelhos do novo testamento) elaborada por monges celtas por volta de 800 d.C. totalmente grafado e ilustrado através da arte Celta.


Da esquerda para a direita as representações de João Evangelista, o Nascimento e o Cristo Jesus
(Book of Kells. Dublin, Trinity College Library, MS A. I. [58])

Estes são os fatos históricos ligados à caçada ao druidismo perpetrada pelos romanos, entretanto, devemos considerar que possivelmente (como comentamos anteriormente) o druidismo estivera inserido como religião no contexto de povos celtas que ocuparam regiões da Europa não somente ligadas à metade oriental. Pode portanto, ter sobrevivido em segredo no átrio da sociedade Celta mesmo que carregado de singularidades regionais. Cabe lembrar que os Druidas eram exímios na absorção de seus ensinamentos e na tradição da transmissão oral.

Durante os últimos séculos o druidismo permaneceu esquecido e recolhido ao passado. A idade moderna marca seu renascimento como uma religião onde os adeptos buscam resgatar e restaurar as crenças, mitos e ritos antigamente guardados pelos Druidas. Em 2010 o druidismo foi reconhecido no Reino Unido como uma religião oficial tão importante quanto o Cristianismo e o Islã.

Índice dos artigos:


Fontes e Bibliografia:
Funcación Icaros: http://www.fundacion-icaros.org/;
The Druid Network: http://druidnetwork.org/;
Templo de Avalon: http://www.templodeavalon.com/modules/articles/article.php?id=85;
Os Druidas, Prof. Dr. João Lupi. Departamento de Filosofia/ UFSC, Brathair 4 (1), 2004: 70-79, ISSN 1519-9053;
Os Druidas: Os deuses celtas com forma de animais, H. D'arbois de Jubainville, 1ª ed. Madras Editora Ltda, 2003. ISBN 85-7374-674-2;

Cordialmente
Conselho de Bruxaria Tradicional
http://www.bruxariatradicional.com.br/

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