segunda-feira, 11 de abril de 2011

Crenças: A Morte, o Outro Mundo e a Reencarnação


Domingo, 10 de Abril de 2011

05 - Crenças: A Morte, o Outro Mundo e a Reencarnação

Aproveito a chegada eminente deste novo ano (per Calendário de Coligny) para falar do fim de todas as coisas e do que esperar. Estes rês conceitos - morte, Outro Mundo e reencarnação - que sempre afiligirão a humanidade, figuram com relativa frequência nas zonas da Europa que retêm memórias do seu passado Celta, nomeadamente a Galiza, a Bretanha, a Grã-Bretanha e a Irlanda.

Como seria de esperar, tais zonas são vastas e centenas de km as separam umas das outras, sendo que as divergências são algumas. Porém, guiar-vos-ei para o conceito de morte, Outro Mundo e reencarnação que considero que os Gauleses tinham.


Para começar, falarei no conceito de morte... verdade seja dita, não se sabe muito sobre a mitologia deste conceito, mas é relativamente semelhante à das culturas circundantes. O mais afamado exemplo de mitologia acerca da morte, advém das noções relativas à morte em batalha da cultura Gaélica.
Badb, deusa da morte e guerra, tinha fama de aparecer quando o derramar de sangue era eminente ou em batalhas, para enlouquecer e confundir os guerreiros. Apesar de poder mudar de aparência, a forma que mais usa é a de um corvo e estes são obviamente associados à morte. Um verso do "Togail Bruidne Dá Choca" diz:

"As badbs (corvos) de bocas vermelhas irão grasnar à volta da casa, solicitando corpos."

Apesar de esta ser uma sua faceta semelhante às Banshees (e que provavelmente lhes deu origem), está claramente associada à chegada da morte em situações não bélicas.

Mas Badb não é portadora da morte, mas sim sua anunciadora e acontece que tem paralelo na cultura Gaulesa - Catubodua é a sua equivalente.



Então quem é a morte? Quem vem buscar as almas e as guia até ao Outro Mundo? Não sei bem. Verdade seja dita, fiquei muito desiludido por ver que não havia nenhuma divindade assimilada a Plutão. Porém, os panteões Britónicos e Gauleses fornecem uma ínfima parte da resposta que desejamos.

Existem duas divindades - Belatucadros e Belado - que estão associadas à morte simplesmente através da etimologia dos seus nomes. Recorrendo às semelhanças entre o Britónico e o Gaulês, descobrimos que "exbelatus" significa "morrer" e "cadros" é "decorar" (no sentido título).

Ambos os Deuses foram assimilados a Marte, o que indica que os Romanos viram neles aspectos guerreiros e não apenas associação à morte. O curioso é que existe uma parte de uma escultura de Belatucadros:
 
 
Esta estranha escultura, achada em Netherby, está toda de chifres. Longe de ser semelhante a Cernunnos, não só devido à identificação com Belatucadros mas também devido aos chifres de carneiro (que indicam agressão), isto parece fazer dele uma divindade associada à violência e, dizem alguns, à caça.
Em suma, acho que Belado pode ser uma divindade da morte e psicopompa, mas sem mais nada que me ajude a descobrir os seus atributos, vai ser difícil encaixá-lo nas minhas práticas.

 
Sobre a viagem para o Outro Mundo e a natureza deste...

Os relatos de Procopius de Caesarea falam sobre as almas dos Gauleses mortos abandonarem os seus corpos, apanharem barcos fantasmas na costa Noroeste da Gália e partirem para a costa da Grã-Bretanha e de lá, para outro lado qualquer (presumivelmente para Oeste).

De forma semelhante, na Galiza e na Bretanha existe a crença de que as almas viajam até às zonas costeiras e apanham os tais barcos fantasmagóricos que os levam para Oeste. Na Galiza, existe o mito da procissão dos mortos até aos promontórios - a Santa Compaña.

O problema com estas versões - é que são todas registadas muito tempo após a subjugação da população Celta autóctone e contêm elementos monásticos. Mas atenção, a ideia de partida para o misterioso Oeste, onde o Deus Sol desaparece e descansa no fim da sua jornada diária, tem paralelos em outras culturas. Logo, é viável para tais culturas costeiras.


De seguida, temos os famosos montes Síd, dos Gaélicos. Basicamente, os montes Síd contêm uma entrada oculta para o seu interior, que leva até ao Outro Mundo que é habitado pelos Aes Síde (o povo do Síd), que são imortais. Para além de se referir a montes, o termo Síd também se pode referir a uma caverna ou a uma região extensa cujo acesso se pode atingir de várias formas. O melhor exemplo desta última opção é o conto do princípe Loegaire mac Crimthainn que ao mergulhar num lago, encontrou um reino radiante debaixo dele. Ao vencer vários desafios, lá permaneceu na companhia dos síd.
Isto aponta para a adicional crença de que um local oculto ao resto do mundo pode ser atingido através de corpos de água.


Um terceiro aspecto das crenças Gaélicas relativas ao Outro Mundo é um local chamado Tír na nÓg - Terra da Juventude. Em suma, Tír na nòg é considerada uma ilha nos extremos Oeste dos mapas para a qual os Tuatha Dé Danann fugiram quando abandonaram a superfície da Irlanda.

 
Mas é em Galês que encontro o que vos quero mostrar. Nas outras mitologias, não encontramos um nome explícito para o Outro Mundo, mas na Galesa sim: Annwn. Esta palavra cuja pronúncia me escapa por completo, signfica "muito profundo" ou "não-mundo" ou "submundo" ou "grande mundo". Bem, curiosa e miraculosamente, temos uma inscrição de uma palavra quase equivalente em Gaulês, que já aqui mencionei: Antumnos.
Annwn é referido como estando debaixo da terra ou sob lagos, em alguns poemas antigos.

Pessoalmente acredito na seguinte visão do Outro Mundo Gaulês (e Britónico): localiza-se debaixo de terra, sendo possível ter acesso a ele através de lagos, rios e cavernas. Tal visão vai de acordo com o rito antigo de depositar oferendas (principalmente armas) para os antepassados em covas profundas e lagos e rios.


Porém, o Outro Mundo não está sempre acessível, havendo três alturas em que os seus "portões" se abrem para os mortos e os vivos: na madrugada de Samonios/Beltane, em Giamonios/Samhain (per "The Boyhood Deeds of Finn") e, de acordo com o folklore continental, no Solstício de Verão.

Adicionalmente, o Outro Mundo é local de "juventude eterna" devido à natureza da alma - já falarei nisso - e esta temática de juventude mantem-se no facto de o tempo lá ser sempre de Primavera/Verão, havendo sempre fartura e festa.


Por fim, a reencarnação. Como toda a gente, vou citar Gaius Julius Caesar para me fundamentar:

"O principal ponto da sua (druidas) doutrina é que a alma não morre e, após a morte, passa de um corpo para outro. (...) o principal objectivo de toda a educação é, na opinião deles, imbuir os seus estudiosos com firme crença na indestructibilidade da alma humana que, de acordo com as suas crenças, meramente muda de uma "habitação" para outra; é através de tal doutrina, que retira à morte todos os seus terrores, que a mais grandiosa forma de coragem pode ser desenvolvida."


Como seria de esperar, Gaius comete um erro ao esquecer-se de mencionar Antumnos, fazendo parecer que o processo de reencarnação aconteça num abrir e fechar de olhos. Mas, de resto, está muito bem e de acordo com a crença Gaulesa de que as almas e o universo em si são imperecíveis.
De acordo com Diodorus Siculus, falando acerca das crenças Gálicas, a alma "vive" de novo após um certo número de anos, assim que entra noutro corpo.
Aí têm: reencarnação!
Para finalizar, os Gaélicos tinham fama de celebrar contratos cujo pagamento ficava para as gerações vindouras, pois os celebrantes acreditavam que iam voltar para pagar/receber a quantia prometida.


Mas se pensam que isto é exclusivo dos Celtas continentais, enganam-se, pois os Nórdicos, Helenos e Védicos também mantinham crenças semelhantes.

Quanto aos Nórdicos, apenas restam poucas provas - pois esta crença foi diminuindo de importância ao longo da evolução da religião Nórdica - mas cria-se que se reencarnava sempre na mesma linhagem de sangue, ou seja, podia-se reencarnar como filho (desde que se morresse primeiro), neto, primo, etc.

Os Helenos que seguiam a religião Órfica ou a filosofia Pitagórica, também acreditavam na reencarnação - os restantes não sei.

Os Védicos, à semelhança dos actuais Hindús, acreditam mas tendem a dar-lhe um ligeiro toque de necessidade de "redenção"....

Um comentário:

  1. Em todos os livros que li sobre o Povos Celtas, há uma concordância de que a morte não existia, era como se fosse uma tmeporada de férias do espírito em relação ao corpo! rsrsrs
    Tanto é que, aqueles que possuiam dívidas, ao ir passar uma temporada em Sidh, mantinham vivas essas dívidas para quando voltasse.

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